sábado, 14 de março de 2015

Repita a cena.

Mesmo que tudo seja um sonho, os papéis continuam colados na parede.
Para quem sempre vislumbrou a Lua, dois sóis causam um estrago belo.Há muitas primaveras que o vento do inverno não testava os cabelos curtos.Uma vez escrito, lido ainda será. Ah, subjetividade, quando é que deixará estas mãos?
Os vilões, não os violões. Eles são (ou deveriam ser) acionados  na junção do dedão com o dedo do meio, um toque e o personagem está livre a transitar.Pois é, eu deveria estar fazendo outras coisas, mas minha fraqueza combina muito bem com linhas em branco.A arma é simplesmente uma caneta carregada e, a vítima...
A tontura tomou os olhos secos por uma fumaça, talvez neblina de sonhos.Tentou de todas as formar levantá-los ao voar de pássaros azuis e das aves de Hitchcock.
Há tempos uma garotinha esperava ansiosamente ser mulher. Com o tempo passou a arrepender-se de tal desejo até, finalmente, sentir a mudança correr escura em suas veias.
Eu cuspo dores de rascunhos no peito, de canetas de ponta fina pintando sombras entre as linhas.
A poesia nunca é pura. A poesia é gritada.
A madrugada será longa e o nevoeiro, distante. Pensava em mesóclises; em como tratar um texto de forma menos pessoal.E queria chorar de tanta dor insuportavelmente boa que sentia.Queria sentir-se um pouco menos feliz para dosar o que sentia.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quem há de ler outra paródia

Roubaram-me a fala, as palavras, a caneta, os desenhos: tudo.
Esperava ansiosamente um adjetivo, uma resposta, uma mudança.Esperava que fossem mais discretos quando fossem falar sobre meu futuro, mais descritivos... Nem arma, nem faca usaram no roubo; apenas o conhecido método, o melhor deles: sequestro.
Quem diria que o mais furtivo me fora tirado.O mais precioso e indevido de minha vida.Amor? Paz? Estes voltam com o vento sempre fiel. O futuro me fora tirado, raptado e atado em cordas velhas. Ele é frágil e necessita de atenção, de cuidados.
Os atrevidos perguntam qual era o valor do resgate. Tão alto quanto poderia imaginar. Pagar com o tempo, com a espera guardada nos cartões.Limpei a carteira: nada mais restara.
Ligaram-me dizendo:
''Estamos perto, mais informações ainda hoje ''
Que terrível dia, de horas incontáveis.
Há de chegar, de ser recuperado.
Uma carta estava à minha espera:'' 23 ''
Nenhuma lágrima ousou cair até receber o que fora prometido, o que fora pago. Mais de mil noites a conquistar o que talvez nunca chegue a voltar.
* É, continuo não sendo A melhor, apenas a mais pura antítese.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Já faz falta

Não acordei de manhã.Não pus o uniforme ou o tênis azul.Não cheguei cedo ou tarde.Não vi o reflexo nos vidros das lojas.Não rondei as salas como quem não sabia o que fazer.Não estralei os dedos.Não bocejei.Não tive o pequeno entusiasmo que sempre vinha.Não disse bom dia.Não acenei.Não ri.Não comi um salgado gorduroso nem uma maçã saudável.Não suspirei, nem ao menos sorri.Não reencontrei quem queria.Não voltei a ser quem nunca fui.Não vazei nenhum segredo no canto da boca.Não retornei aos braços da felicidade.Não alimentei um velho amor.
Fui toda de negativas.Inevitavelmente o fim de uma era, provavelmente a melhor : a mais estranha.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Gole de outros venenos

A pele esmaecia em sentenças curtas.Os olhos inchavam.Entre os mil e um desejos que guardava cruzados no peito, todos os dois decidiram tomar frente naquele dia tempestuoso.Queria adjetivos, metonímias e complementos.Gritava nomes, queria ser dois - mesmo dois já sendo.Um por outro não havia como, tinha de igualar a queimadura com o remédio.
Vomitava mais que sempre desejara fazer.Fez as malas, não deixou bilhete e pegou o primeiro trem para a ultima estação.
Desdenhou as rachaduras nas mãos, as mechas molhadas.Aguentou mais um dia, e, mais uma noite detenta a sobreviver dos seus segredos.Eram muitos antigamente, hoje, apenas três.
Nem mesmo um condão faria outra lágrima voltar.A garganta não mais cedia e despejava nas letras mais um pouco do que não tinha como ser descoberto.Eram drogas demais embaladas em vidros comerciais, intituladas como deveras os donos quisessem.
Vício congruente, choro e mentiras em nome das verdades - sonhadas em felizes.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Outros braços

Quando os braços me têm, levemente nos meus, mãos, costas e rosto, mesmo sem a dança, os passos são dançados.
Mãos imponentes em terno preto, vingam novamente o melhor dos abraços adentrados.O ar toma todo o pulmão : perfume que suspira !
Como sentiria falta desses momentos raros ao fim do sol para a noite reter o desespero.
Nos corredores estrelados encontrei-o.Pus as mãos nos braços dele e mostrei preocupação, mas o Sol gritava e ele não ouvia : chegou mais perto.Uma mão em minhas costas e a outra na minha face.Repousei as minhas uma no ombro e a outra no peito.Disse-me palavras que não entendi, malditas estrelas gritando.
Abracei-o com força e não quis soltar, foi semelhante ao abraço que me deu num corredor branco mais de um ano atrás...Jamais o soltaria se pudesse assim ser.Ele foi quem soltou.Mirou meus olhos com os brilhantes dele e beijou meu rosto segurando-o com as duas mãos.Sorri deliberadamente - pois não tive outro adjetivo para dar - e o vi sumir majestoso pelo chão de madeira.
Enxugou minhas lágrimas pela moldura do espelho.Nada o prometi, apenas a mim que não esqueceria o dono dos abraços vigias do tentar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Flavo como o rei

(Se for para vir, vem!)
Não me lembro qual música tocava...Não sei que horas eram...Não sei o que se passava em minha mente.Provavelmente Meio nada e meia.Do que restou, as promessas são muitas da minha parte, incontáveis vezes que os pensamentos afogaram meus olhos.
Da certeza trago pouco mais que a troca de olhares mais linda já vivenciada, trago um futuro que as telas retratarão.
Não são conjuras de amor! Não!
Já bastam as agonias que o amor me trouxe, tantas!

O salão parecia tão vazio, como sempre me parece; e, parecia tão errado não dançar a valsa.
Quando meus olhos pertinentes cismam com a grandeza, não há luz que os cubra.De tantas vezes que ousei chamar o destino para me ajudar, para intervirem em meu bem, em nenhuma delas meu pensamento fora tão grandioso.

Ah
me faltam palavras, como naquela noite.
Como pode uma alma tão podre como a minha se encher de brilho com algo que não chegou a acontecer? E ainda por falha minha?
Chega..Já é tarde e o ano já está a se acabar, quem sabe junto dele se vão meus arrependimentos dos atos-não-feitos?

Se não fosse eu tão sonhadora e distraída, não seriam dourados os fios (seus).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O segundo sonho : eugenia

Patinava no gelo, de um inverno estadonidense em 1969.Meados de novembro, preparativos ao Natal. Uma lagoa preservada verde e cristalina as águas, que pretendiam criar desordem naquela tarde.
Três salas grandes e um pátio que seguia um corredor até a cozinha. Nela, o espaço era pouco, e muito se encontrara entre os fogões assando bolos e a geladeira ao lado da porta.
Uma garota fora de seu tempo entretida com o que achara nas prateleiras da geladeira, tem a tarefa de segurar um recém-nascido no intuito de facilitar a passagem de uma conhecida. Ela o põe nos braços, quase o derruba, e, percebe assim que pureza como aquela não era do seu século de origem.
Ela passa a reparar e identificar cada objeto. Não encontra seu telefone no bolso. Agachada no piso repete a si mesma '' Não pode ser''. Decide agir, vai até o padeiro e pergunta:
- Mauro, em que ano nasceu?
- 91.
Ela se alivia e percebe a tolice. Mas...Não! Não era possível que aquele senhor tivesse nascido em 1991, pois ela própria nascera em 1997 e, se realmente estivesse em 2014, seu presente, ele não apresentaria a idade. Entra em pânico:
-1891?
Ele concorda e ela corre.
Sabia que não podia alterar o tempo, pois uma vez mudado o passado para sempre o futuro seria consequente.
Ao avistar a conhecida, corre em busca de respostas.Grita:
-Escute-me, pare! Que dia é hoje?
- 18! - Responde com pressa.
-De que mês?
- Novembro ! - Agora já com deboche.
-Mas...de que ano?
-Bia, 1969! O que há contigo?
Ela corre e pergunta às crianças quem era o presidente, apenas um se atreveu a responder '' Johnson'', mas o mesmo havia saído do poder no ano passado. Uma menina pequena, de oito anos, pede a ela um peixe. Ela pensa ''Oras, não tenho tempo para peixes!'', e envia um garotinho à lagoa para pescar.
Tudo estava em ruínas, cada palavra dela 45 anos adiantados tornaria moderno demais o passado.
Enquanto ela precavia-se em cada passo, seu amigo esbanjava tecnologia na sala do meio. Ao ver a cena, ela entra no cômodo gritando e exigindo que parasse sem ao menos indagar o porquê ele tinha o celular e ela não.
O pior permanecia. O lago estava sob detetização e o garoto havia sumido. Os peixes afundaram em petróleo e o cheiro exalado contaminava os redores. Bia não tinha como resolver sozinha e volta à sala pensando que o amigo poderia ajuda-la. Que ironia, agora tudo estava em pleno equilíbrio: todos sentados enfileirados, silenciados e comportados. Ela avistou no último lugar, na ultima carteira um homem alto, ali sentado.
Ela pensou que, devido as madeixas douradas e olhos celestes, se tratava de um anjo que perdera as asas. Em função disto, as mãos pálidas da moça foram diretamente tocá-lo nas costas, pouco abaixo dos ombros.
Subitamente ele se levantou, rindo e chamando-a pelo nome, como se o verbo ''conhecer'' tivesse agregado um significado mais profundo.
Todos os outros na sala estavam lá como removidos, insignificantes observando-os. Ela acabou abraçando-o por trás, fazendo cócegas. Davam passos para trás, frente e para os lados, e iam diminuindo a velocidade dos pés e da fala risonha...Até que, sem saber no que resultaria, ela para e o abraço continua. Sua cabeça se reclina no ombro quente e vai deslizando vagarosamente até o peito dele e se aloja ali.
Sentindo o perfume puro e o calor da pele que se mostra tatuada, no lado direito do peito: versos. Ela não se conteve e teve de sentir as palavras por suas palmas das mãos, e passa a ler as letras pretas. Aconchegados um no outro, exitam o trocar de olhares, mas não conseguem e acabam por perdendo-se um nos olhos do outro. Ele inclina a cabeça e ela ergue a dela. Os lábios se tocam e contribuem à felicidade mútua. A sensibilidade se acentuou com a pureza e divindade compartilhada. Ela tinha medo de soltá-lo na possibilidade de ser abandonada, cultivando esperanças de uma nova visita de um anjo que não pode mais voar.
Os rostos se separam e trocam o último olhar de clamor. Ela acaricia o rosto dele como despedida mirando o azul inigulável dele. Ao deixar a sala da forma que a encontrara, com os versos na mente, ela nota o mal que fizera. Os deuses haviam escrito em linhas diferentes o destino daquele homem, que agora estava fadado a levá-la consigo sem jamais usufruir de um reencontro.
Como ela havia voltado ao passado? Nem mesmo Bia sabia. Poderia ser delírio, efeito colateral, de testes de algum medicamente, insanidade; tecnologia militar ... Ou, apenas um sonho para alegrar sua semana. De tão anestesiada que se sentia, ela não debatia a fonte que a trouxera.
Ao cruzar a porta, Bia se arrepende de ter alterado a história, mas também de deixá-lo lá. Vira-se. Abre a porta azul e estava a entrar no mesmo cômodo que saira, mas agora em sua atualidade. Bendito 2014. Bia fica imóvel ao reconhecer na sala cada rosto visto minutos atrás, não havia lógica que explicasse a situação vivenciada. Desta vez, estavam todos de pé, distraídos e conversando, e, enquanto ela boquiaberta analisava sua condição de realidade, o mesmo homem loiro vem em sua direção. 
Ele sorri e meche em sua cintura.Diz:
- Ah, me desculpe, mas eu já não te vi em algum lugar?
Ela reconhece cada traço dele, sorri singela e mente como nunca quis:
- Não...Eu acho que não.