quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Outros braços

Quando os braços me têm, levemente nos meus, mãos, costas e rosto, mesmo sem a dança, os passos são dançados.
Mãos imponentes em terno preto, vingam novamente o melhor dos abraços adentrados.O ar toma todo o pulmão : perfume que suspira !
Como sentiria falta desses momentos raros ao fim do sol para a noite reter o desespero.
Nos corredores estrelados encontrei-o.Pus as mãos nos braços dele e mostrei preocupação, mas o Sol gritava e ele não ouvia : chegou mais perto.Uma mão em minhas costas e a outra na minha face.Repousei as minhas uma no ombro e a outra no peito.Disse-me palavras que não entendi, malditas estrelas gritando.
Abracei-o com força e não quis soltar, foi semelhante ao abraço que me deu num corredor branco mais de um ano atrás...Jamais o soltaria se pudesse assim ser.Ele foi quem soltou.Mirou meus olhos com os brilhantes dele e beijou meu rosto segurando-o com as duas mãos.Sorri deliberadamente - pois não tive outro adjetivo para dar - e o vi sumir majestoso pelo chão de madeira.
Enxugou minhas lágrimas pela moldura do espelho.Nada o prometi, apenas a mim que não esqueceria o dono dos abraços vigias do tentar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Flavo como o rei

(Se for para vir, vem!)
Não me lembro qual música tocava...Não sei que horas eram...Não sei o que se passava em minha mente.Provavelmente Meio nada e meia.Do que restou, as promessas são muitas da minha parte, incontáveis vezes que os pensamentos afogaram meus olhos.
Da certeza trago pouco mais que a troca de olhares mais linda já vivenciada, trago um futuro que as telas retratarão.
Não são conjuras de amor! Não!
Já bastam as agonias que o amor me trouxe, tantas!

O salão parecia tão vazio, como sempre me parece; e, parecia tão errado não dançar a valsa.
Quando meus olhos pertinentes cismam com a grandeza, não há luz que os cubra.De tantas vezes que ousei chamar o destino para me ajudar, para intervirem em meu bem, em nenhuma delas meu pensamento fora tão grandioso.

Ah
me faltam palavras, como naquela noite.
Como pode uma alma tão podre como a minha se encher de brilho com algo que não chegou a acontecer? E ainda por falha minha?
Chega..Já é tarde e o ano já está a se acabar, quem sabe junto dele se vão meus arrependimentos dos atos-não-feitos?

Se não fosse eu tão sonhadora e distraída, não seriam dourados os fios (seus).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O segundo sonho : eugenia

Patinava no gelo, de um inverno estadonidense em 1969.Meados de novembro, preparativos ao Natal. Uma lagoa preservada verde e cristalina as águas, que pretendiam criar desordem naquela tarde.
Três salas grandes e um pátio que seguia um corredor até a cozinha. Nela, o espaço era pouco, e muito se encontrara entre os fogões assando bolos e a geladeira ao lado da porta.
Uma garota fora de seu tempo entretida com o que achara nas prateleiras da geladeira, tem a tarefa de segurar um recém-nascido no intuito de facilitar a passagem de uma conhecida. Ela o põe nos braços, quase o derruba, e, percebe assim que pureza como aquela não era do seu século de origem.
Ela passa a reparar e identificar cada objeto. Não encontra seu telefone no bolso. Agachada no piso repete a si mesma '' Não pode ser''. Decide agir, vai até o padeiro e pergunta:
- Mauro, em que ano nasceu?
- 91.
Ela se alivia e percebe a tolice. Mas...Não! Não era possível que aquele senhor tivesse nascido em 1991, pois ela própria nascera em 1997 e, se realmente estivesse em 2014, seu presente, ele não apresentaria a idade. Entra em pânico:
-1891?
Ele concorda e ela corre.
Sabia que não podia alterar o tempo, pois uma vez mudado o passado para sempre o futuro seria consequente.
Ao avistar a conhecida, corre em busca de respostas.Grita:
-Escute-me, pare! Que dia é hoje?
- 18! - Responde com pressa.
-De que mês?
- Novembro ! - Agora já com deboche.
-Mas...de que ano?
-Bia, 1969! O que há contigo?
Ela corre e pergunta às crianças quem era o presidente, apenas um se atreveu a responder '' Johnson'', mas o mesmo havia saído do poder no ano passado. Uma menina pequena, de oito anos, pede a ela um peixe. Ela pensa ''Oras, não tenho tempo para peixes!'', e envia um garotinho à lagoa para pescar.
Tudo estava em ruínas, cada palavra dela 45 anos adiantados tornaria moderno demais o passado.
Enquanto ela precavia-se em cada passo, seu amigo esbanjava tecnologia na sala do meio. Ao ver a cena, ela entra no cômodo gritando e exigindo que parasse sem ao menos indagar o porquê ele tinha o celular e ela não.
O pior permanecia. O lago estava sob detetização e o garoto havia sumido. Os peixes afundaram em petróleo e o cheiro exalado contaminava os redores. Bia não tinha como resolver sozinha e volta à sala pensando que o amigo poderia ajuda-la. Que ironia, agora tudo estava em pleno equilíbrio: todos sentados enfileirados, silenciados e comportados. Ela avistou no último lugar, na ultima carteira um homem alto, ali sentado.
Ela pensou que, devido as madeixas douradas e olhos celestes, se tratava de um anjo que perdera as asas. Em função disto, as mãos pálidas da moça foram diretamente tocá-lo nas costas, pouco abaixo dos ombros.
Subitamente ele se levantou, rindo e chamando-a pelo nome, como se o verbo ''conhecer'' tivesse agregado um significado mais profundo.
Todos os outros na sala estavam lá como removidos, insignificantes observando-os. Ela acabou abraçando-o por trás, fazendo cócegas. Davam passos para trás, frente e para os lados, e iam diminuindo a velocidade dos pés e da fala risonha...Até que, sem saber no que resultaria, ela para e o abraço continua. Sua cabeça se reclina no ombro quente e vai deslizando vagarosamente até o peito dele e se aloja ali.
Sentindo o perfume puro e o calor da pele que se mostra tatuada, no lado direito do peito: versos. Ela não se conteve e teve de sentir as palavras por suas palmas das mãos, e passa a ler as letras pretas. Aconchegados um no outro, exitam o trocar de olhares, mas não conseguem e acabam por perdendo-se um nos olhos do outro. Ele inclina a cabeça e ela ergue a dela. Os lábios se tocam e contribuem à felicidade mútua. A sensibilidade se acentuou com a pureza e divindade compartilhada. Ela tinha medo de soltá-lo na possibilidade de ser abandonada, cultivando esperanças de uma nova visita de um anjo que não pode mais voar.
Os rostos se separam e trocam o último olhar de clamor. Ela acaricia o rosto dele como despedida mirando o azul inigulável dele. Ao deixar a sala da forma que a encontrara, com os versos na mente, ela nota o mal que fizera. Os deuses haviam escrito em linhas diferentes o destino daquele homem, que agora estava fadado a levá-la consigo sem jamais usufruir de um reencontro.
Como ela havia voltado ao passado? Nem mesmo Bia sabia. Poderia ser delírio, efeito colateral, de testes de algum medicamente, insanidade; tecnologia militar ... Ou, apenas um sonho para alegrar sua semana. De tão anestesiada que se sentia, ela não debatia a fonte que a trouxera.
Ao cruzar a porta, Bia se arrepende de ter alterado a história, mas também de deixá-lo lá. Vira-se. Abre a porta azul e estava a entrar no mesmo cômodo que saira, mas agora em sua atualidade. Bendito 2014. Bia fica imóvel ao reconhecer na sala cada rosto visto minutos atrás, não havia lógica que explicasse a situação vivenciada. Desta vez, estavam todos de pé, distraídos e conversando, e, enquanto ela boquiaberta analisava sua condição de realidade, o mesmo homem loiro vem em sua direção. 
Ele sorri e meche em sua cintura.Diz:
- Ah, me desculpe, mas eu já não te vi em algum lugar?
Ela reconhece cada traço dele, sorri singela e mente como nunca quis:
- Não...Eu acho que não.

sábado, 13 de dezembro de 2014

O cisne negro narrando as aves


Quando a noite é descrição de arco-íris, feita em 7 listras, o pote no fim das cores é ouro apenas se parar de chover.
Tudo, tudo coopera.Coração dispara, pulsação acelera em vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.Dois segredos, uma história e um sorriso.Poucas linhas e muito o que se dizer sobre algo que nunca aconteceu, sobre algo que não sei que aconteceu.
Como é falar sobre algo do qual se desconhece a existência? Inédito.
Elegância e uma pitada de suspiro.Importância com um bocado de integração.Com ainda mais encanto surge um pássaro em meu canteiro de flores.Ele responde quando o chamo, vai, e fico a observar quando ele me faz o mesmo...Canta baixinho, para que as outras aves não se sintam intimidadas - com suas asas novas.
Em seguida, me vêm um corvo.Muitos diriam que era melhor se afastar, tomar distância da criatura...Mas, por alguns motivos, aquele ser sombrio sempre me atraiu de uma forma ou outra.Pousou rasteiramente ao meu lado sem que eu notasse, deixou a frieza de canto e quente parou em meu ombro.Abriu as asas que arranhavam meu rosto, assim uma forte fragrância me atingiu.Senti-me segura para contar-lhe um segredo : '' Já vivi este momento num sonho''.
Achei que havia acordado, mas todas as flores do jardim ainda estavam por lá.Inclusive os girassóis malditos, que viravam, tontos, em torno das luzes dos espelhos da minha janela.Sonho sim, sonho não, deixei-me ir a andar entre as flores todas.
Avistei, com certeza de que era, um bem-te-vi.Riu a mim como sempre cantarolando o que agrada.
Pouco ao seu lado, sai de um laginho, toda molhada, uma coruja.Abaixei-me e ela deu um passo, dois, em minha direção.Olhou-me com aqueles grandes olhos e piou.Toquei em suas penas e a água passou à minha mão.Foi embora dali, estava ficando tarde para perseguir aves no quintal..A presença da coruja já confirmava isto.
Sentei-me entre as flores azuis e a grama.Era confortável, nenhum inseto tão próximo, e, a luz da Lua começara a me atingir naquele exato instante.
Uma ágia, saída de nem-deus-sabe-daonde segue uma linha reta em minha direção.Meus olhos se tornaram fixos como os dela,ameaçadoramente belos.Ao estar frente a mim: parou.Voou para seguir a direção, mas as penas esbarraram no que posteriormente seriam as minhas.Virei-me: ela seguira em frente.
Fui-me de volta à casa e em frente ao espelho me deparei com os primeiros sinais: olhos manchados e penas na coluna.Virei a cabeça para olhar, do colo às costas meu pescoço grudou os lábios na pele.Na tentativa de gritar - ainda sem saber qual era o sentimento - assobiei.Cantarolei e cantei as águas de uma cidade a qual nunca fui...E, eu, tão pálida, beirando branca, via a escuridão tomar-me como gole de bebida em festa.
Ao bater as asas, perdi o vôo e cai na terra seca.Acordei já curada, com o corpo terno e já repudiado por tudo: estava de volta à temível ''normalidade''.Recebi visitas, queriam me agradar.
Foi-me perguntado o que queria de Natal, sugeriram um pássaro.Aquelas eram as opções,e, eu, ainda não sei qual delas voar.

                                                                               



domingo, 7 de dezembro de 2014

Os cabelos no chão

Para tudo há uma explicação, principalmente para o novo corte que aderi.Anteriormente, as mechas longas voavam ao vento e eram unidas em laço, mas, quando os tempos não eram mais de inverno nem verão, eram confusos, tive de escolher.
Optei pela duplicidade.Metade longo, metade curto.Mantinha meus ideais antigos, os que o tempo formou e trazidos de berço; e rompia com os mesmos, realçando o outro lado que há tempos queria tomar vida.
Foram pouco mais de 50 dias jogando a moeda ao ar: sendo cara ou coroa.Sendo bom exemplo de dia e vilão a noite.
Como em tudo na vida, as trevas arderam mais e ultrapassaram os limites da direita e esquerda.
Não foi uma escolha e nunca será.Foi uma necessidade.Um grito de socorro.
A cor me interrompeu nos instantes de alívio.Sempre escuro, sempre sombra.Sempre refletira sem espelho o que agora totalmente sou : totalmente o outro eu.Um eu com nome gritando sem precisar se retratar ou apresentar.
Por fim, nunca se tratou do meu cabelo...Mas isto, todos já sabem !